AQUELES QUE NÃO USAM MÁSCARAS (ou sobre a autenticidade ostentada)

 

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Esse texto não é imparcial, nem poderia ser, qualquer pesquisa, livro, artigo, produção acadêmica ou artística, passa pelo crivo das motivações e pelo olhar de seu produtor. Na segunda metade do século XIX, período em que a Sociologia começava a se consolidar como ciência, Émile Durkheim em sua obra As Regras do Método Sociológico de 1895, já chamava a atenção para o fato de que a pesquisa sociológica era um exercício de se colocar fora do objeto estudado, objetivamente, de maneira que nosso olhar fosse o mais independente possível, tratando o objeto pesquisado como “coisa”, nas palavras é claro do próprio autor. Dessa forma, o que defenderei aqui poderá e deve ser questionado por você, o seu olhar e perspectiva não necessariamente coincidem com o meu, poderemos ao fim desse texto concordar ou discordar em parte ou completamente do que foi tratado aqui, mas, quero lhe convidar a permanecer comigo até o final.

Esse texto foi escrito em 2021, caso você esteja o lendo em algum ponto do futuro, estamos no segundo ano da pandemia do então chamado Corona vírus, não preciso aqui me aprofundar nos por menores dessa tragédia, pois ela está (ou foi) bem documentada e registrada para as gerações futuras. O surto inicial proporcionou um desequilíbrio na cadeia produtiva mundial, graças ao nosso modelo econômico globalizado, sendo assim, devido ao fluxo não só de mercadorias, mas também de pessoas, seria questão de tempo até que o surto se tornasse epidêmico e em seguida adquirisse status pandêmico. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de que muitas pessoas, pelo menos em um primeiro momento, tratarem a situação como sendo exclusiva de uma realidade distante, que pouco tem influência em seu cotidiano, afinal, já são tantos os problemas e desafios diários que nós enfrentamos, que casos como este sinceramente não nos causam um sentimento de alerta ou de urgência. Mas afinal, o que eu quero dizer com tudo isso?

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Ora, esse distanciamento é característico de nossa sociedade, mesmo problemas endêmicos de toda sorte, parecem não afetar em nosso dia a dia, isso ficou claro quando começaram a relativizar os efeitos do COVID-19, dizendo que “as doenças existentes em nosso país matam muito mais” ou então “a violência policial” e a “marginalidade” matam muito mais! A forma como esses comentários normalizam e em alguns casos banalizam problemas estruturais da sociedade, é algo preocupante ao meu ver, pois mostra que mesmo sabendo da existência de tais problemas, pouco ou nada se faz para amenizarmos e até mesmo eliminarmos os mesmos. Ao invés disso desenvolvemos uma convivência com tais problemas que permite que enquanto um problema ou adversidade não nos impacte diretamente, praticamente nós os ignoramos ou então “fingimos não vê-los”, essa ação não se dá de maneira proposital, afinal, é claro que existem coisas além de nossa capacidade, como por exemplo a elaboração de políticas públicas, mas para isto existe a representatividade característica do regime democrático, e para os problemas de saúde pública, podemos tomar medidas preventivas e cautelares. Mas nesse ponto temos um pequeno problema, um grande número de pessoas ainda considera que certos cuidados, não só de natureza pessoal, mas também coletiva, são coisas desnecessárias, um capricho que não corresponde à realidade a qual estamos inseridos.

Vou tentar ser mais claro, certa vez, um trabalhador encarregado de abastecer caminhões em um grande depósito, com muitos contêineres e paletes repletos de mercadorias empilhados em grandes altitudes, me disse que ali não se respeitavam as normas de segurança do trabalho, como o uso obrigatório de EPI (equipamento de proteção individual) porque um capacete não impediria sua morte caso algo pesado caísse em sua cabeça. Outro exemplo é o não uso de proteção quando se realiza algum reparo ou pequena obra em domicílios, você mesmo já deve ter feito isso, ou então presenciou um amigo ou parente nessas condições. Você deve agora estar pensando que estou me distanciando do tema original, mas calma, continue comigo que logo iremos nos entender. Um termo que nos é bastante recorrente nas Ciências Sociais, é o “senso comum”, sendo bem direto, uma explicação rápida seria dizer que se trata de se considerar que toda solução individual ou que se restringe a um pequeno número de pessoas, pode ter a mesma eficácia e objetividade se aplicada a um número maior de pessoas, Dito isto, segundo o senso comum, muitas das medidas que devem ser tomadas para se precaver, não apenas do COVID-19, mas também de várias outras doenças, são consideradas irrelevantes e desnecessárias, pois sempre alguém conhece uma outra pessoa que ouviu dizer que determinada pessoa nunca tomou certos cuidados preventivos e nem por isso contraiu algo mais grave.

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O que estas pessoas não levam em consideração é o fato de que organismos diferentes reagem e se comportam de maneira diferente, um outro exemplo é a recente e tardia preocupação com o estado psicológico e emocional dos trabalhadores em geral, pois sempre se considerou uma banalidade e também como sinal de fraqueza uma pessoa, seja ela criança, adolescente, adulta, independente de ser homem ou mulher, buscar ajuda especializada de psicólogos ou psiquiatras, ou simplesmente se abrir com alguém de sua confiança para falar de seus problemas e angústias mais íntimos. Somos uma sociedade que sofre calada, que se amargura e se condena, justamente por achar que o problema é consigo, claro que todos temos uma parcela de culpa, mas deve-se considerar os fatores externos. Vivemos nossas rotinas como se fossem um roteiro pré definido e de certa forma é isto mesmo. Da mesma forma que os males psicológicos são constantemente desconsiderados e subestimados, os cuidados com nossa saúde muitas das vezes também o são, muito disso se deve a nossa tradição, isso mesmo que você leu, temos uma cultura em que homem não chora, em que mulheres se calam para não ofender o “macho alfa”, onde chinelo e palmada, substituem conversa e acompanhamento, onde tudo é “frescura” e com isso vamos colocando pra debaixo do tapete problemas e situações que deveriam ser tema central em nossas conversas e debates.

Estamos em uma era onde a velocidade na proliferação de informações é instantânea, mas a qualidade e veracidade dessas mensagens são questionáveis em minha opinião, milhares de pessoas ganharam voz e espaço para exporem suas ideias e sentimentos, isso para o bem e para o mal. Eu entendo que somos seres propensos a sociabilidade, e que preferimos nos conciliar com pessoas que compartilhem de nossas crenças, opiniões e demais visões de mundo, já temos uma postagem aqui no blogue referente a isso e se você quiser se aprofundar mais clique aqui. Além disso, é muito preocupante quando uma ferramenta tão poderosa como a internet é utilizada de maneira as vezes tão banal, e outras vezes até prejudicial quando ela se torna veículo de propagação do ódio e também de preconceitos contra quem quer que seja, por isso amigos e amigas, não concordem comigo apenas porque de alguma forma você simpatize comigo, veja se meu discurso faz sentido, observe minhas referências e pesquise ao londo do blogue e tire suas conclusões, faça isso com todo e qualquer conteúdo que você venha a ter contato, seja texto, vídeo ou áudio. Desconfie de títulos sensacionalistas, na maioria das vezes, estes não condizem com o conteúdo do material em si, não se contente com achismos e saiba diferenciar conceito de opinião pessoal, não importa o quanto você discorde de algo, este não mudará pelo fato de você não aprová-lo, mas também não seja desonesto ao ponto de distorcer seu significado entre seus medos e fantasmas particulares. Sendo assim amigo e amiga, cuide de si, cuide dos seus, que seu exemplo reverbere e “contamine” a todos a sua volta. Lavem bem as mãos, não apenas durante essa Pandemia, tome cuidado, é preciso estar atento e forte, cuide de seu corpo mas também da alma e seja a mudança que você quer ver no mundo.








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