A IMPOSIÇÃO DA LIVRE ESCOLHA (ENTRE ESTAS E OUTRAS COISAS)

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Em se tratando de computadores em geral, meu primeiro contato como muitos de vocês, foi com o sistema proprietário Windows, o mais popular e usado sistema no mundo, mas sobre isso falaremos depois. A primeira pessoa a adquirir um computador pessoal em nossa casa foi a minha irmã, lembro-me que à época a versão utilizada era o Windows XP, mas as configurações da máquina eu não saberia especificar. Sistemas operacionais estão presentes em nossas vidas muito mais do que imaginamos, eles estão em televisores, telefones celulares, assistentes pessoais como a Alexa e o Google assistente, além é claro da Siri, desenvolvida pela empresa Apple. Você provavelmente está lendo este texto em seu Smartphone, pois saiba que isso só é possível graças ao sistema Android, mantido pelo Google, ou se você está em um Iphone, seu sistema é o IOS, desenvolvido pela Apple, existem outros sistemas para os nossos computadores de bolso, mas estes são os dominantes no mercado, pelo menos por enquanto

Até o final dos anos 1970, reinavam absolutos os mainframes, computadores enormes, trancados em salas refrigeradas e operados apenas por poucos privilegiados. Apenas grandes empresas e bancos podiam investir alguns milhões de dólares para tornar mais eficientes alguns processos internos e o fluxo de informações, a maioria dos escritórios funcionava mais ou menos da mesma maneira que no começo do século XX, arquivos de metal, máquinas de escrever, papel carbono e memorandos faziam parte do dia a dia. Você pode facilmente se informar sobre a evolução da informática e dos computadores pessoais com uma pesquisa rápida pela internet, essa não será nossa preocupação, mas, a popularização deste tipo de equipamento mudou completamente nossas relações pessoais e profissionais de toda sorte, não preciso é claro explicitar o que é óbvio, porque não nos imaginamos em um mundo onde não existam Desktop, Notebooks ou Smartfones. Assim como muitas pessoas, meu contato efetivo com computadores se deu em um ambiente de trabalho, sendo que fiz parte do grupo de indivíduos que optaram por procurar trabalho logo após o término do ensino médio, nesses casos, a faculdade fica em segundo plano, e só depois de algum tempo se inicia uma graduação ou curso técnico após o horário comercial.

Voltando ao assunto, as empresas precisam gerir seus recursos de maneira otimizada, por isso, ou a empresa utiliza em seus computadores um sistema proprietário como o Windows, adquirindo é claro sua licença por um valor específico, ou infelizmente se utilizando de uma prática comum em algumas empresas e demais estabelecimentos comerciais que é a pirataria de software, incluindo o sistema operacional em si, e um pacote office, que inclui planilha eletrônica, editor de textos e apresentação de slides, ferramentas indispensáveis no dia a dia de um departamento administrativo. Mas existe uma terceira via, uma solução gratuita e menos popular, mas igualmente eficiente, e foi essa opção que me deparei em minha primeira experiência como assistente administrativo em um setor comercial, me refiro ao assim chamado Linux.

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O homem escreve a sua própria história, mas não de livre e espontânea vontade, já dizia um velho barbudo, e é isso mesmo que acontece, mesmo quando temos a sensação de termos parcial ou até mesmo total controle sobre uma decisão, a síntese resultante será sempre algo limitado ao que estava disponível em determinada hora e em determinado contexto, podemos passar a vida inteira acreditando que estamos no ápice da emancipação, mas na verdade somos barcos a motor, insistindo em usar remos, desconhecendo completamente a existência de possíveis caminhos que nos levem a um melhor cenário repleto de novas oportunidades e conquistas. Deixando um pouco as divagações filosóficas, mas chamando a atenção para a importância dessa discussão para minha explanação, imagine o que faz uma marca, produto ou ideia ser dominante em determinado mercado ou na aceitação de um grupo específico de pessoas ou até mesmo em sua quase totalidade?

Ao longo dos anos de minha experiência com sistemas operacionais, pude notar os vários perfis característicos entre os assim chamados usuários, eles se distinguem uns dos outros e comumente se agrupam e solidarizam em comunidades virtuais e fóruns de ajuda e manutenção das então denominadas distribuições, que é como são chamados os vários tipos de softwares que estes utilizam em suas máquinas, sejam elas Desktop, Notebooks ou servidores. Trazendo a discussão para mais próximo de nós, meros mortais, que apenas utilizam o computador para realizar tarefas simples como por exemplo, trabalhos escolares, pesquisas pontuais ou então alguma atividade profissional que não exija um grande conhecimento tecnológico, como rotinas administrativas, produção textual ou até mesmo algum empreendimento online, não quer saber do que é feito ou no que consiste um sistema operacional, simplesmente ele quer ligar o computador e fazer suas tarefas, ouvir música e ser produtivo, ou simplesmente se divertir, e não a nada de errado nisso, mas de agora em diante quero pontuar algumas observações e constatações que acumulei durante os anos. Uma parceria comercial se estabeleceu anos atrás e até hoje está em vigor, a quase totalidade dos computadores vendidos no Brasil e também em outros lugares do mundo, mas com menor abrangência, vem com o sistema Windows instalado, ou seja, o valor da licença do software está incluso no valor final do produto, tornando ainda mais caro o produto, sem falar na gigantesca carga tributária que é praticada nesse segmento.

A HISTÓRIA DO WINDOWS


A questão aqui não é o sistema operacional em si, mas sim a imposição que é feita aos consumidores, pois o Windows é um sistema pesado e ele vem de fábrica em computadores que muitas das vezes não tem capacidade para rodá lo satisfatoriamente, além disso, historicamente o software é alvo de muitas críticas sobre sua vulnerabilidade e instabilidade, fazendo com que em alguns casos, a experiência do usuário seja frustrante, eu por exemplo, sofri com o na época recente Windows 8 instalado em meu Notebook barato com apenas dois gigas de ram, onde abrir um navegador de internet e uma planilha eletrônica causava travamentos e congelamentos constantes, isso sendo o sistema original e ativado corretamente, resumindo, o sistema é instalado sem qualquer preocupação com a compatibilidade entre o hardware e software, ou seja, nos é empurrado goela a baixo.

Este não é um texto difamatório do Windows, mas sim uma observação de como ele se tornou o sistema mais utilizado no mundo, ele funciona e é eficiente, se não fosse, empresas do mundo inteiro já o teriam abandonado, mas a questão é, como vivemos sob um monopólio, que já foi maior, sem nos importarmos com isso? Imagine que praticamente quase todos os dados de empresas e instituições, estão sob a tutela de um software de código fechado e proprietário! Claro que a Microsoft não é a única a fazer isso, hoje praticamente o Google na forma de seu vasto leque de produtos, gerencia nossa vida e tem acesso a tudo que fazemos e pensamos em fazer, na forma de registro das informações digitadas em seu site de buscas, em quase tudo em que nos logamos, nós utilizamos nossa conta Google, eu mesmo digitei esse texto em um serviço dessa empresa, o chamado blogspot, que armazena esse nosso querido blogue, ou seja, não é a minha intenção vilanizar qualquer empresa, mas a Skynet nunca foi tão real e presente em nossas vidas, só espero que não tenhamos o mesmo desfecho do filme de 1984

Por que mesmo quando não somos obrigados a utilizá-lo, como nas empresas ou instituições escolares, optamos por instalar ele em nossas máquinas domésticas de forma não oficial colocando em risco nossos dados pessoais e financeiros? Primeiro, a maioria das pessoas com quem eu tenho contato não tem uma preocupação com segurança digital, muito menos com a origem das mídias digitais que consomem, existe um sentimento de naturalização em adquirir esses produtos de maneira não oficial, e dessa maneira não pagar por eles, que faz com que essas pessoas não se sintam fazendo algo errado, eles são em sua maioria trabalhadores formais e informais, estudantes e demais cidadãos que cumprem seus papéis sociais de maneira satisfatória, segundo cada um dos grupos a que fazem parte, ou seja, tudo bem depois de eu chegar do trabalho, pagar minhas contas de luz e internet, e depois baixar aquele filme lançamento em algum site “especializado”, a nossa moral é fluida nesses tempos líquidos, onde as relações se dão de forma tão impessoal que o sentimento de empatia se torna menos presente, ou seja, a cada download feito dessa forma, algum desenvolvedor e criador de conteúdo deixa de ganhar pelo seu esforço, mas de alguma forma não nos sentimos culpados por isso.

REVOLUTION OS - Documentário sobre a origem do Linux!


Voltando aos sistemas operacionais, existem formas de se obter descontos e até mesmo utilizar programas proprietários de código fechado de maneira gratuita, sem se utilizar de pirataria. A outra solução como já mencionado é a utilização de programas de código aberto gratuitos, que são mantidos por empresas tão significativas quanto a Microsoft, e também por comunidades de usuários dedicados a ajudar outros usuários ao redor do mundo, sei que parece meio lúdico e utópico, mas existem essas pessoas e empresas, e isso não significa que elas trabalham de graça, muito menos que estas empresas deixam de ganhar dinheiro com esse tipo de prática, você pode saber mais clicando neste link. Uma grande crítica, e considerado por muitos o grande motivo de não utilizarem os assim chamados softwares livres, como os sistemas operacionais baseados em kernel Linux, ou um dos vários pacotes office como por exemplo o LibreOffice, OnlyOffice entre outros, seria a falta de compatibilidade destes com as soluções proprietárias de empresas como as já mencionadas Apple e Microsoft. Mas o que a maioria das pessoas ignora é que existem programas similares que realizam a tarefa em questão com a mesma eficiência, e nos casos em que isso não é possível, isso deve ao fato do código do programa pago ser fechado, dessa forma os desenvolvedores ficam incapacitados de criarem soluções que atendam a demanda de quem não quer pagar nem piratear algum software. Claro que essa é uma forma de as empresas protegerem seu produto, e não a nada de errado nisso, mas o que soa contraditório e o fato de essas mesmas empresas se beneficiarem de projetos de código aberto em algum estágio de seu processo tanto criativo quanto comercial.

Mas entendo que quando nascemos esse barco já tinha zarpado, ou pelo menos ainda não tínhamos idade para perceber o que estava se iniciando, esse processo foi tão objetivo em nossas vidas que acreditamos que esse modelo ao qual estamos habituados é o único possível, isso acontece em todas as esferas de nossas vidas, nós naturalizamos a rotina e interiorizamos imposições sem perceber que estamos sofrendo uma violência simbólica, no sentido de agirmos de acordo com as regras e escolhas de outras pessoas e também de grandes corporações, me utilizei do exemplo dos softwares, mas o mesmo pensamento se aplica em tudo a nossa volta, não é por que uma coisa “sempre foi assim” que ela é a melhor opção ou então a mais adequada escolha. A ilusão de independência e livre arbítrio nas escolhas das opções oferecidas a nós dentro do contexto social, nada mais são do que um jogo de cartas marcadas onde quem as nos ofereceu não terá prejuízo, seja qual for a opção selecionada, o algoritmo parece mágica ao nos oferecer justamente o que desejamos consumir, estamos presos nesse admirável mundo novo, onde até mesmo os meios de subversão e revolta a este sistema, possuem o seu próprio código de barras, a revolução nos é oferecida em embalagens customizadas ao nosso gosto e preferência pessoal, afinal, a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes.

COMO AS EMPRESAS GANHAM DINHEIRO COM SOFTWARE LIVRE?



                                        

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