A PROFUNDIDADE DA TOCA DO COELHO

Reprodução

Afinal que tipo de conhecimento é válido? Qual versão dos acontecimentos e fatos históricos podemos eleger como sendo a narrativa correta? Durante décadas, o conhecimento produzido e reproduzido nas Universidades e demais institutos de ensino e pesquisa, tinham a posse da narrativa oficial e seu veredito era respeitado, a contestação se dava entre os próprios acadêmicos, gerando debates acalorados e publicações de livros e artigos científicos, tudo acontecia distante da realidade de nós meros mortais, o pouco que se tinha conhecimento chegava até nós via matérias e reportagens, que muita das vezes passavam despercebidas ou divulgadas em programas específicos, em horários desencontrados com o horário comercial, horário este que rege boa parte de nossa população, ou então em horário reservado ao nosso descanso, não competindo assim com nossas prioridades. Não me refiro apenas as Ciências naturais, ou então as que o senso comum entende como “tecnológicas”, como por exemplo as diversas Engenharias e demais ciências relacionadas a sistemas de informação, me refiro também as Ciências Sociais, logo elas que se ocupam dos fenômenos sociais e suas implicações. 

Mas isso tudo acabou, nunca antes na história desse país, se falou tanto em Economia, Sociologia, Filosofia e tudo quanto é conteúdo que antes só tínhamos contato ou no ensino médio, ou nas condições que especifiquei no início deste texto. Com o advento da internet e dos modelos de celular cada dia mais acessíveis (acessível sim, eu entendo que tem muita gente de fora ainda mas é grande o número de celulares ativos no Brasil) os produtores de conteúdo online se proliferaram, desde o primeiro vídeo postado no Youtube em 2005, de lá pra cá, o número diário de conteúdo postado nessa plataforma é incrível! Sendo assim, muitos serviços começaram ser disponibilizados em formato de vídeo, desde simples entretenimento, em sua maioria e com qualidade questionável, tutoriais para resolução de problemas do dia a dia, receitas culinárias entre outros.

Reprodução

Outro serviço muito popular na internet em geral, não apenas no Youtube, são os cursos pré vestibulares e também os preparatórios para concursos públicos, esses vídeos são interessantes e trazem um conteúdo válido, claro que depende muito da proposta de cada equipe, mas não são estes os que me causam incomodo, fiz este breve percurso para chegar no ponto que quero realmente abordar, me refiro aos revisionistas e teóricos que abordam temas que são caros aos profissionais que dedicaram anos de suas vidas em suas graduações, existem inúmeros casos de “especialistas” que “refutam” ou que “desmascaram” determinado autor ou determinada tradição sociológica ou filosófica.

Não estou propondo uma defesa cega de nenhum método ou linha de pensamento, mas é muito triste quando vemos um assunto que nos é tão caro sendo exposto de maneira equivocada e fora de contexto, quero deixar claro agora que estou me referindo as Ciências Sociais em geral, em todas as redes sociais e plataformas online existem “especialistas” que se propõem a me “esclarecer” e a me salvar de uma doutrinação que vem sendo exercida sobre mim desde a minha tenra idade. Claro que ideias devem ser contestadas e reavaliadas, isso é o caminho sensato que uma Ciência deve percorrer, o que eu não concordo é com um discurso reducionista e falacioso, sem método nem rigor científico.

Esse discurso se popularizou e se disseminou de maneira gradual, quando nos demos conta já estávamos perdendo espaço e voz nas redes sociais, julgávamos que apenas o enfrentamento face a face, no sentido de debater, seria ainda a melhor forma, sendo que os contrários a nós começaram a dominar os espaços digitais já em meados de 2013, quando das manifestações que tomaram várias regiões do país. Demoramos a entender estes fenômenos próprios do século XXI, logo nós que nos propomos a entender estes fenômenos e a diagnosticá-los, não quero aqui cometer nenhuma injustiça, eu sei que tem gente pesquisando e trabalhando essa modernidade liquida, mas em nossa grande maioria, ainda olhávamos para o “exótico” ou para os temas tradicionais de nossa área de conhecimento.

Reprodução

Um fato que me entristeceu muito nesse início de ano, foi uma série de conversas que tive com um antigo amigo já graduado, ele argumentava e apontava questões e definições que em minha opinião não cabem a alguém com um certo nível de entendimento, eu tenho consciência que todos os dias encontramos alguém melhor do que nós em alguma coisa, o que me incomodou não foi o fato de ele não concordar comigo, mas sim da forma que ele discordou, além de reproduzir o discurso reducionista e alarmista tão comum nas redes sociais, reconheceu também que estava baseando um argumento na interpretação de terceiros, e quando questionei se ele tinha lido os originais de determinado autor a resposta foi que não!

Eu ficaria muito feliz se as pessoas discordassem de mim de uma maneira sóbria, e quem sabe até poderiam me convencer, por que não? O fato é que não sou dono da razão, já mudei de opinião muitas vezes ao longo desses quarenta anos, e não tenho vergonha de fazê-lo novamente, mas por favor, tenhamos objeto e método de estudo!

Comentários