O CONFORTO DA BOLHA

 

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O homem é um ser social, mesmo que cotidianamente sejamos obrigados a nos relacionar tanto com quem simpatizamos ou não, existe uma certa autonomia em relação aos conteúdos com os quais interagimos e consumimos. Me refiro a mercadorias das mais variadas, desde gêneros alimentícios, vestuário e também mídias físicas e digitais. É claro que o que chamamos de gosto pessoal, e também os bens de consumo que adquirimos para suprir essa demanda, são definidos e construídos sociologicamente, e por isso mesmo variam de forma e conteúdo de acordo com o contexto e momento histórico. Pode parecer estranho, mas não somos tão originais e autônomos quando se trata do que escolhemos ou somos levados a preferir, nós apenas optamos pelas opções disponíveis, e dentre estas, muitas das vezes, sua totalidade não chega ao nosso conhecimento, seja por ação de algorítimos ou devido ao nosso comportamento, dentro e fora de nossas redes sociais, sejam elas físicas ou digitais. É compreensível que achemos o nosso modo de vida algo extremamente coeso e significativo, nossas crenças e opiniões, além das jã mencionadas escolhas pessoais, são para nós algo objetivo em nossas vidas, mesmo que ao longo de nossa vida, nós passemos a seguir tendencias diferentes, ou então alteremos significantemente ou não, o nosso modo de vida.

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Sendo assim, nós gostamos de coisas, e além disso, gostamos de ouvir no argumento de outros, nossas próprias opiniões, e isso é muito sedutor, tratar com outras pessoas assuntos e temas que nos são caros, e que também proporcionem de alguma forma certa satisfação, seja no entretenimento ou então, em alguma área profissional e até mesmo acadêmica, é algo que fazemos diariamente e raramente deixamos esse comportamento de lado. Claro que existem exceções, é comum nosso grupo de amigos próximos ser formado por pessoas com gostos diferentes dos nossos, e que por sua vez, fazem parte de outras redes compostas por indivíduos igualmente dissonantes, mas existe uma certa harmonia, algo que proporciona um nível de interação que faz estas pessoas nos serem queridas, e esses laços farão nossa conexão com outros grupos, mas o tema do texto é o oposto, me refiro a chamada zona de conforto. No ano de 2020, um documentário fez um relativo sucesso em uma plataforma de Streaming bastante popular em todo o mundo, me refiro ao documentário “O dilema das redes” nele não há nenhuma grande revelação, nem algo que nunca se tenha ouvido falar antes em noticiários ou publicações especializadas, mas foi um bom lembrete de como estamos expostos e também vulneráveis no mundo virtual. Crimes cibernéticos, desde roubo de dados, ou invasões de privacidade, seja de famosos ou de pessoas “comuns” não são novidade, e infelizmente são cada vez mais recorrentes, mas o que dizer quando nós mesmos entregamos nossos dados e convidamos verdadeiros estranhos, na figura de empresas que nos fornecem produtos e serviços, a entrarem em nossas vidas e terem conhecimento de nossos maiores segredos e vontades, além de nossos horários e rotinas? É exatamente isso que trouxe você até aqui, de alguma forma, nós, eu e as pessoas que acompanham meus textos, compartilhamos de gostos parecidos, independente de graduações ou profissões que desempenhamos, provavelmente assistimos programas parecidos, se não os mesmos, preferimos determinado estilo musical, além de todo ecossistema e cosmologia que compõe essa estrutura na qual nos sentimos tão bem.


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Mas, apesar de nos sentirmos seguros e bem informados, essa bolha na qual nos enclausuramos de boa vontade, pode sim nos ser prejudicial, corremos o risco de sermos unilaterais no discurso e nas motivações, por mais que tenhamos nossas convicções, o contato com ideias diferentes da nossa é sempre um exercício saudável e isso deve ser sempre estimulado. Mas é obvio que não devemos compactuar com a intolerância e essa cultura de discurso de ódio que permeia não apenas a internet, mas sim toda nossa sociedade atual. Dessa maneira, sugiro que cultivemos boas relações, existem grupos muito produtivos que compartilham e discutem material de ótima qualidade, são inúmeros os grupos de E-books gratuitos e também de divulgação cientifica e cultural espalhados pelas redes sociais, podemos manter contato com profissionais e estudantes de várias regiões e quem sabe, conhecer pessoas que moram em nossa cidade. Se você produz ou apenas vende um produto ou serviço, divulgue e torne sua marca atraente e conhecida pelas pessoas certas, aquelas que realmente irão se interessar pelo seu trabalho, ou então apenas encontre outras pessoas fãs de seu artista ou grupo favorito. Sempre entendi a internet como uma ferramenta, o uso que se faz dela é que é o problema, seja você a diferença e não compartilhe algo que não acrescentará em nada, muitos cursos e palestras estão disponibilizados de maneira gratuita e legal, sem a necessidade de serem pirateados, não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que nunca baixei um torrente daquela série bacana que saiu, ou que não tenho alguns MP3 em meu computador, mas a tendencia é ser cada dia melhor, tanto ética quanto moralmente, então amigas e amigos, nos vemos por ai, isso é claro se o algorítimo permitir!





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