ESTRUTURADO OU MÓVEL PRÉ-MOLDADO?

 

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Eis a questão, o termo estrutura tem muitas definições dentro do vocabulário das Ciências sociais, e se tratando primeiramente de nossa língua portuguesa, é um substantivo feminino que define a organização, disposição e ordem dos elementos essenciais que compõem um corpo concreto ou abstrato, ou até mesmo aquilo que dá sustentação a alguma coisa, como por exemplo uma armação ou um arcabouço. Mencionando rapidamente alguns autores, Radclife-Brown (1940) compreende estrutura social como sendo uma rede complexa de relações sociais, o sociólogo Brasileiro Octavio Ianni compreende tal conceito como “o arranjo no qual os elementos da vida social estão ligados” (1973), neste caso a estrutura seria um mecanismo que interliga as partes do sistema social, garantindo sua coesão. Uma boa bibliografia está disponível para quem se interessar em conhecer o conceito, mas, aqui para nós, podemos defini-la como o conjunto de regras aos quais somos integrados e que nós assimilamos ao longo de nossa trajetória como participantes de determinados grupos de pessoas e instituições.

Vou agora me usar como exemplo, nasci e fui criado até determinado tempo em uma família nuclear, ou seja, formada por pai, mãe e filhos, dentro desse grupo fui integrado a determinada segmentação religiosa e educacional, e sequencialmente fui interagindo e me relacionando com variados outros grupos sociais relacionadas a música e a determinado tipo de esporte, e também a culturas que não estavam presentes, em um primeiro momento, em minha formação familiar, mas que passaram a ser parte do que podemos chamar de “minha identidade”. Mas mesmo tendo um repertório de ideais e um comportamento diferente de meus progenitores, existe uma estrutura que me guia de maneira objetiva moldando meu “novo eu” a algo previamente estabelecido, que adquiri desde os anos iniciais de minha criação até os dias atuais.

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Graças ao poder superior, minha mãe está presente criando e ensinando meus dois filhos, e a mim também, pois o arcabouço e fundamento que foi formado através do exemplo e prática, se refletira no profissional da empresa onde eu vier a trabalhar, no pai que sou hoje para meus filhos, no amigo para quem me escolher como companhia e no amante para a pessoa que comigo quiser estar, tudo isso para o bem ou para o mal, pois somos o herói ou heroína de nossa própria história. A intersubjetividade, que é a relação, boa ou ruim, entre consciências que são universos muitas vezes diferentes, é determinante na formação de grupos que irão gerar movimentos e instituições subjetivas ou não, que assim como ao longo do nosso processo histórico, transformaram ao mesmo tempo que causaram boas e más consequências, dependendo de que lado do tabuleiro você se encontra, ou a que ponto nós acreditamos que estamos mesmo uns contra os outros ou apenas desconsiderando o nosso real adversário que é o nosso próprio eu, ou o que achamos que ele o seja. Partindo desta premissa, os acontecimentos e manifestações que estamos acompanhando na nossa história ressente, não são inéditos nem exclusivos de nosso momento atual, as redes sociais facilitaram e tornaram possível a massificação ainda maior de valores e costumes que são praticados e cristalizados de geração em geração por um grande número de pessoas independente da região ou comunidade que estes venham a integrar.

Um exemplo disso é que em um determinado grupo familiar, entre tias, tios, primas e primos existem várias configurações de modelos familiares, cada um com indivíduos que muitas vezes não compartilham os mesmos ideais ou crenças, mas isso não causa uma desagregação, mas impõem limites e estabelecem em algum nível, uma maior ou menor empatia e cumplicidade. Isso pode soar como normal, mas o estranhamento e análise desses grupos mostra como em uma estrutura, por mais que seja estável, assim como qualquer grupo social, se faz presente uma fragmentação embasada por preconceitos e questionamentos que não tem embasamento no bem estar e convivência harmoniosa, mas sim influenciada pela não aceitação, e em alguns casos causando conflitos que ultrapassam o campo das ideias, ou seja, algo os uni, mas a realidade concreta e a subjetividade os deixa em campos antagônicos perante vários assuntos, e isto merece ser observado.

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Optei por usar o grupo familiar como exemplo de minha dissertação, porque eles são o reflexo e também a origem dos demais grupos sociais ao qual fazemos parte, quero deixar claro que ela não é objetivamente determinante em nosso comportamento, pelo menos em sua totalidade, mas se fizermos esse mesmo estranhamento, que significa identificar as causas dos fenômenos que se manifestam e ditam modos de agir, em outros grupos, iremos sem muita dificuldade encontrar vários pontos e comum. A discussão proposta nesse texto não é a de escolher que lado está certo, mas criticar a forma como está sendo feita esse julgamento de ideais e valores, que vão desde questões morais, filosóficas, profissionais, econômicas, além de assuntos relacionados a gênero e representabilidade, tudo isso tem sido “debatido” com base em “achismos” e sem nenhum critério que busque um esclarecimento e entendimento, um grande número de pessoas é movido por um negacionísmo do que não corresponde ao preconceito que carregam. Sendo assim, não importa se estamos no século XXI, o nível tecnológico que alcançamos, as conquistas sociais que foram estabelecidas, existem camadas que são sobrepostas e há bases objetivas em nosso subconsciente que nos tornam um ser que com várias faces sociais, dialogam de maneiras diferentes dependendo do que, de onde e por que.



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