UMA NOVA ÓTICA (PARA UM NOVO IMPERIALISMO)

Reprodução

Os primeiros autores que se propuseram a analisar a chamada modernidade e suas consequências econômicas e sociais vislumbravam um contexto especifico, onde sua percepção procurou explicar e acima de tudo fornecer mecanismos de mudança para a solução dos problemas que se apresentavam até então. Hoje, muitos questionam a relevância da obra de autores como Karl Marx, afirmando que ele não poderia prever o desdobramento da atual ordem mundial, onde velhos conceitos se renovam e aumentam seu poder de dominação.
Desde a primeira metade do século XX, vários pensadores procuraram desmentir essa afirmativa, unindo o pensamento marxista a outras áreas do conhecimento, e essa nova forma de teorizar foi característica dos adeptos da escola de Frankfurt, e além deles mais posteriormente, surge à chamada geografia Marxista, com uma nova concepção de espaço físico e político. Sendo assim, termos como neoliberalismo e novo imperialismo, surgem no vocabulário de autores como David Harvey e Milton Santos, ambos em suas obras abordam o conceito de globalização e de hegemonia por parte não apenas de uma nação especifica sobre outra inferior, mas de poderosos blocos econômicos que impõem sua dinâmica sobre um número cada vez maior de pessoas.
A OBJETIVIDADE DA REALIDADE CONCRETA
O novo imperialismo está presente em nosso dia a dia de maneira tão objetiva que não percebemos a violência que esse processo exerce sobre nossa sociedade, desde a infância somos bombardeados com informações referentes a outras culturas, que não se refletem em conhecimento, mas sim que obedecem a procedimentos de dominação e inculcação dos valores dos grupos dominantes, como já dissemos essa nova fase do imperialismo, busca exercer um controle global e universal, no sentido de não apenas obter a hegemonia de mercado na forma de monopólio como citado por Lenin em sua obra Imperialismo fase superior do capitalismo (1916), mas sim num encadeamento de vários setores da economia, da sociedade e da cultura também, que se tornam interdependentes e complementares de uma engrenagem de proporções globais.
É interessante como vários pontos de vista podem ser complementares mesmo se contrapondo ideologicamente, pelo menos para mim acadêmico de Ciências Sociais, a análise de pontos de vista divergentes tem suma importância para o enriquecimento ideológico e intelectual, como por exemplo, o livro de Max Weber: Estudos Políticos. Rússia 1905 e 1917 que contem textos compreendidos entre esses períodos que analisam a situação politica da mesma Rússia que Lenin vivia no momento em que escrevia sua análise sobre o imperialismo e da situação econômica não só da Rússia, mas também de toda a economia mundial, que já naquele período se configurava de forma semelhante ao que vemos hoje, ou seja, blocos econômicos constituídos de vários Estados conduzindo os rumos de países menos influentes, e grandes corporações consolidando cada vez mais sua hegemonia ao redor do globo, porém apesar de terem óticas diferentes, Weber analisa que a situação política russa tendia à radicalização e que Nicolau II, se rendera ao poder dos bancos, que é uma das muitas observações contidas no texto de Lenin no capitulo II da sua obra em questão, de como o papel dos bancos se reformulam com o desenvolvimento do capitalismo em sua nova fase, ou seja: Na medida em que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número reduzido de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos intermediários que eram antes, em monopolistas onipotentes, que dispõem de quase todo o capital-dinheiro do conjunto dos capitalistas e pequenos patrões, bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas de um ou de muitos países. Esta transformação dos numerosos e modestos intermediários, num punhado de monopolistas, constitui um dos processos fundamentais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista, e por isso, devemos deter-nos, em primeiro lugar, na concentração bancária.
Mas tudo isso, se deve ao método cientifico elaborado por Karl Marx, na observação da realidade concreta, e também do vasto conhecimento politico e filosófico que dispunha o nosso autor, Lênin analisou como, no início do século, os principais mercados mundiais estavam rigorosamente repartidos entre um pequeno número de monopólios. Hoje em dia cada vez mais tomamos conhecimento de siglas como: BRIC, OEA, ONU, UE entre tanta outras que se fazem presente na economia da maioria dos países. Essa nova divisão do espaço geográfico foi feita durante e depois do fim da primeira guerra mundial, ou seja, ela foi uma guerra imperialista. Nos nossos dias, o mundo se encontra demarcado e repartido, cada grupo ou corporação tem sua área de atuação que dependendo dos interesses em questão se inter-relacionam fazendo com que a engrenagem capitalista se renove e continue em perfeita operação, como bem disse David Harvey, as crises não são resolvidas, elas são remanejadas e assumem outra configuração em outro setor da economia mundial. Lenin vivenciou o processo de transição do imperialismo clássico para o que se convencionou chamar de novo imperialismo, no sentido de se configurarem novas formas de dominação que não usassem exclusivamente o uso do poderio militar, ou seja, as transações econômicas e comerciais, e o domínio de suas peculiaridades, se tornaram além do já utilizado discurso ideológico, “armas” muito mais eficazes do que o arsenal bélico até então concebido.
A “MÃO VISÍVEL” DA ECONOMIA
Como já dissemos, na segunda metade do século XX, surge uma nova maneira de se impor tanto ideologias quanto inculcar valores, além de introduzir muito além das fronteiras de determinado Estado nação, as suas praticas econômicas e culturais, fazendo com que cada vez mais regiões do globo se tornem mercado comum para um seleto numero de empresas e corporações. Esse novo Império se fortalece não pelo simples uso da força, no sentido bélico, pois temos que entender que esse domínio se dá em vários estancias, por isso o texto de Ellen Meikisins Wood, cai perfeitamente para analisarmos a situação do maior império da atualidade, os Estado Unidos da América. Sua frente de atuação se dá na área econômica e cultural, seu modo de vida (ou pelo menos o que eles querem que sigamos) chega a lugares cada vez mais inusitados, como por exemplo, países que tradicionalmente se declaram rivais de sua politica internacional e econômica não escapam de seus filmes e séries televisivas carregadas de sublimidades e xenofobismo. Sua moeda e sua língua, ainda são padrão nas negociações e na maioria das relações exteriores ao nosso país e origem.
A forma de imperialismo praticada pelos Estados Unidos é mais eficaz do que uma ocupação militar, a autora argumenta que a ocupação do Iraque durante o governo Bush, foi uma exceção que não remete ao “estilo americano” que em minha opinião se aproxima do totalitarismo, sendo assim, todo processo de globalização se torna um tipo de totalitarismo moderno, no sentido de hegemonizar conceitos e significados que muitas das vezes são distorcidos quanto ao seu sentido original descaracterizando-os. Outra particularidade no “estilo americano” de imperialismo, é a ênfase no desenvolvimento de armamentos e técnicas militares, já há muito tempo os EUA são a maior potencia militar do planeta, e se comportam como um típico Cowboy dos filmes de faroeste produzidos em seus estúdios, ou seja, sempre que tem a oportunidade (ou mesmo se não tiverem eles a criam) seu poderio militar é acionado para “pacificar” ou “proteger” alguma região na qual eles tenham interesse, seja para expandir seu mercado consumidor ou até mesmo explorar suas reservas naturais. O aumento de seu poderio militar me parece uma forma de garantir a sua hegemonia de forma cada vez mais abrangente, ou seja, a expansão de sua influência se dá em varias frentes seja ela cultural ou econômica, e se algum dia surgir alguma tentativa de organização militar por parte de seus rivais declarados ou não, eles parecem estar preparados para quando a pena não for mais forte que a espada.

Comentários