SIM, VAMOS FALAR DE TRABALHO (DE NOVO ESSA IMAGEM?)

 

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Logo de início, quero deixar claro que eu tenho total noção de que a única forma de se viver em uma sociedade baseada no consumo, é comprando ou vendendo produtos e serviços. Da mesma forma que eu compreendo que para adquirir moeda de troca para adquirir esses mesmos produtos e serviços, eu tenho que vender minha força de trabalho em troca de um salário, e assim contribuir para o nosso belo quadro social. Isso é fato, está posto, não é meu objetivo aqui esmiuçar e apontar as diversas falhas e instabilidades que esse modo de produção acarreta, pois, existe uma imensa bibliografia destinada a esse tema. Sendo assim, gostaria de tecer outro tipo de comentário, que pode ser que se enquadre em algum conceito ou verbete já existente, me refiro a motivação individual de alguns em exceder suas funções pré estabelecidas em contrato, mesmo em condições onde não haja remuneração extra, ou algum tipo de premiação que justifique tal ação.

Lógico que logo virá a mente o conceito de tipo ideal elaborado por Max Weber, e, com certeza, ele é aplicável em tais situações, mas a análise aqui não será tão criteriosa a ponto de aprofundarmos conceitos sociológicos, pretendo apenas em um primeiro momento registrar meu estranhamento em relação a certas situações tão inculcadas em meu cotidiano profissional, e com certeza no de muitos de vocês também. Comecemos por mim, eu não tenho nenhum sentimento de pertencimento afetivo a empresa na qual eu trabalho, mas nem por isso deixo de cumprir minhas obrigações contratuais, não me sinto " vestindo a camisa " da empresa ou algo do tipo, mas se tem algo que me faz exceder meu horário, ou então, ir além das funções referentes ao meu cargo, é o fato de que alguém possa estar em uma situação drástica, que dependa diretamente ou não, dá minha função, ou seja, eu me importo com o indivíduo, não com a empresa. Esse comportamento é observado não apenas no interior da organização, ele está presente nas relações tanto familiares, quanto nas interações informais de toda sorte.


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Existem indivíduos que literalmente fogem de casa todos os dias pela manhã, e respaldados pelo papel de mantenedores financeiros da família, legitimam sua ausência e com isso se isentam, muitas das vezes, do seu dever de contribuir com a formação moral e também da orientação ética que atribuímos ser de nosso dever enquanto pais ou responsáveis de nossos filhos e demais protegidos. Durante o breve período em que estive em home office, devido a crise sanitária iniciada em 2020 e espero que no momento que estiver lendo esse texto tenha passado, observei e coletei relatos de vários indivíduos de como o período fora da empresa, seja por motivo de férias remuneradas, ou até mesmo finais de semana, são considerados incômodos e de certa maneira pouco agradáveis, pelo menos quando estes momentos não são preenchidos com viagens, ou encontros informais de caráter de lazer ou confraternizações em geral. O fato é que não estávamos preparados nem capacitados para essa experiência, o home office pôs a prova a nossa capacidade de organização e disciplina em um ambiente não controlado, onde fatores emocionais e externos de toda sorte influenciaram diretamente em nossa atividade profissional, afinal de contas, o horário comercial teve de ser obedecido, e até mesmo as costumeiras ligações após o termino do expediente mantiveram sua frequência, e até mesmo em alguns casos se intensificaram, em muitos casos, o colaborador teve seu horário de trabalho estendido sem a devida remuneração extra. Algumas mães tiveram certa dificuldade em trabalhar em casa, pois com as escolas e creches com as atividades suspensas, suas filhas e filhos tiveram que permanecer em casa, exigindo atenção e cuidado por parte delas, mais uma vez evidenciando a dupla jornada exercida por estas profissionais.

Eu sempre bato na tecla de que nós, enquanto seres sociais, assumimos personas e comportamentos diferentes dependendo da situação na qual nos encontramos em determinado momento, nós criamos uma sub-rotina, uma espécie de “entre linhas” na programação que nos é imposta, ou seja, fazemos o que nos é atribuído, mas da nossa própria maneira, ou melhor dizendo, lutamos com as armas que temos. Enquanto algumas pessoas exercem suas atividades profissionais seguindo um pragmatismo rígido e ortodoxo, outra categoria de indivíduos se comporta não de maneira irresponsável, mas sim, com uma carga emocional menos objetiva, onde seus afazeres são realizados e concluídos, mas sem um sentimento de culpa ou remorso por simplesmente saírem no horário estabelecido para o almoço ou final do expediente. Agora temos um impasse, eu me referi a primeira categoria como pragmática e ortodoxa, mas esqueci de mencionar um fator essencial desses indivíduos, eles cotidianamente extrapolam o horário comercial, e estendem suas atividades profissionais para além da empresa, logo, sua vida pessoal se mescla com a profissional, muita das vezes influenciando, ou melhor, determinando seu siclo social.

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Gostaria de deixar claro que não estou de maneira alguma depreciando esses profissionais, nem aqui quero exercer nenhum julgamento de valor quanto suas motivações, claro que o cargo que ocupam pode demandar tal comportamento, mas é também observado que outros agentes em cargos similares não compartilham de tal comprometimento extraoficial, então amigos, o que separa esses dois grupos? Gostaria de falar um pouco sobre a segunda categoria, estes cumprem os horários, são igualmente capacitados, e enfrentaram algum tipo de seleção para estarem ali, mas o que observo é um outro tipo de relação com a empresa. Neste modelo, os agentes são como um grupo informal que transcende os departamentos e setores, e que se ajudam e compartilham afinidades das mais diversas, esse comportamento não prejudica o andamento da rotina dos setores, muito menos interfere negativamente no rendimento das atividades profissionais. Entendam, não é minha intenção romantizar esse grupo, mas, ainda não é claro a origem de tais motivações, elas podem variar ao longo do tempo e devido a certas circunstancias, podem se transformar e se adequar a um novo objetivo. Não se esqueçam que todos somos o herói de nossa própria história, nossas crenças e motivações, são o resultado de nossa criação e socialização, é muito difícil admitir, mas pode ser que um comportamento mal compreendido e que por isso mesmo nos pareça estranho, seja o melhor que outra pessoa possa fazer em favor de seus sonhos e entes queridos.


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