O ECOLOGISMO DOS POBRES - A defesa dos manguezais contra a carcinicultura.

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ENTRE A PRODUÇÃO E A SUSTENTABILIDADE 
Christiano Sousa Pires

MARTÍNEZ ALIER, Juan. O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração. Trad. Maurício Waldman. São Paulo: Contexto, 2007. A defesa dos manguezais contra a carcinicultura. p. 119 – 144.

PALAVRAS CHAVE: Ecologismo, Ambientalismo, Carcinicultura.

Existem algumas correntes ambientalistas, que evidenciam diferentes formas do homem perceber e entender o ambiente ao qual está inserido, elas são denominadas de: culto ao silvestre, evangelho da ecoeficiência e ecologismo dos pobres. Esta última, é tema central na obra de Juan Martinez Alier, e é representada por grupos sociais ligados a sindicatos, movimentos feministas, movimentos contra o racismo, nas suas diferentes formas, e demais grupos que são excluídos pelo sistema econômico vigente, e buscam uma mudança deste processo, ao lado daqueles que têm um convívio não predatório com a natureza. O livro: O ecologismo dos pobres: conflitos ambientais e linguagens de valoração (2007), é uma importante contribuição para o debate sobre meio ambiente, política e economia, com a intenção de auxiliar a estabelecer dois campos de estudo que são: a ecologia política e a economia ecológica.

O autor investiga as relações entre as duas áreas, além disso, traça um panorama do aumento das tensões pelo acesso a recursos naturais, e da relação entre progresso econômico e uso do meio ambiente. O foco de minha análise, é o capítulo cinco intitulado: A defesa dos manguezais contra a carcinicultura, onde o autor traz para a discussão, alguns casos de conflitos que, apesar de estarem distanciados geograficamente, compartilham vários fatores e também causas de devastação do meio ambiente. Destes fatores, podemos citar desde a extinção de espécies marítimas nativas, até a impossibilidade de grupos sociais tradicionais, a muito estabelecidos em uma determinada região, de realizarem as atividades essenciais para sua sobrevivência. Os casos acompanhados pelo autor, são relacionados a indústria pesqueira, mais precisamente a chamada aquicultura, que é baseada no cultivo de organismos aquáticos geralmente em um espaço confinado e controlado, onde são utilizados produtos químicos para maximizar a produção, entretanto, isto é danoso ao ecossistema quando estes produtos são lançados no meio ambiente. As consequências, que esta atividade acarreta, quando é realizada, como em todos os casos narrados pelo autor, de maneira desregrada e sem preocupação com os habitantes das áreas onde é praticada, são explanadas ao longo deste capítulo, que reflete a respeito do conflito entre, a conservação dos manguezais e as exportações de camarão por diferentes países.

Quando me referi as regiões separadas geograficamente, que compartilham os mesmos problemas, não só com a indústria pesqueira em alto-mar, mas também, com o que o autor se refere como a catástrofe dos cercamentos, cito aqui as áreas costeiras da América Latina, do sul e sudeste do continente Asiático, e também da África Oriental. Juan Martinez Alier, descreve com bastante propriedade, casos de intervenção tanto por parte dos adeptos da exploração industrial do camarão, quanto as ações dos movimentos de proteção ambientalistas, que junto com a população pobre, que vive de maneira sustentável nos mangues, se opõem a esta prática. Os casos analisados não por acaso estão inseridos num contexto de temporalidade, onde a preocupação com as questões ambientais se intensificou ainda mais. Em 1989 as Organizações das Nações Unidas (ONU) agendou para junho de 1992, a realização de sua segunda conferência sobre o meio ambiente e desenvolvimento, sendo definida a cidade do Rio de Janeiro como sede, com essa expectativa, vários setores governamentais e da sociedade em geral, como por exemplo a comunidade científica, empresários, sindicatos, além dos grupos ambientalistas, mobilizaram-se para a preparação da Conferência do Rio denominada popularmente de ECO-92.

É neste contexto, que a obra de Juan Martinez Alier se insere, o autor aponta que foi preciso alguns anos, para que se tomasse consciência, da relação entre a exploração da carcinicultura e a devastação causada não apenas aos mangues, mas também as comunidades que deles tiram seu sustento. Inicialmente a atenção era direcionada para a pesca em alto-mar, que causava a morte das tartarugas, e desde a tomada de consciência sobre os males da carcinicultura, vários argumentos foram utilizados para combater sua prática, desde o de que o desmatamento deixa as áreas vulneráveis a penetração da água do mar, ocasionada por ciclones, até o de que uma vez caindo em desuso, as piscinas utilizadas para o cultivo do camarão permanecem salinizadas, impossibilitando o uso agrícola. Todos estes acontecimentos se deram no decorrer dos anos noventa, e como já me referi, foi um período de grande agitação e efervescência dos movimentos ambientalistas que recorreram aos tribunais internacionais para tentar conter a devastação dos manguezais e também das comunidades circunvizinhas. Por isso o livro é importantíssimo, e seu registro é um documento de grande ajuda para nós graduandos, ou para qualquer pessoa que queira compreender um pouco mais sobre o tema.

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